Por muitos séculos, o tempo esteve
diretamente ligado à Astronomia. A passagem do tempo era contada a partir de
ciclos naturais, como o nascer e o pôr-do-sol. O calendário solar, desenvolvido
pelos egípcios por meio de delicadas observações astronômicas, é o que mais se
aproxima do nosso atual. O calendário lunar desenvolvido pelos babilônios nos
deixou como herança o mês dividido em semanas de 7 dias, em decorrência das
quatro fases da Lua. Além disso, o primeiro relógio desenvolvido pela humanidade
tinha relação com a astronomia. O relógio de sol não foi apenas o primeiro, mas
serviu para “calibrar” outros tipos de relógio. Cada avanço na contagem do
tempo decorreu de um processo de evolução, na qual a necessidade de um
calendário ou de um relógio se tornava uma questão de sobrevivência.
O Egito Antigo, localizado numa região
predominantemente desértica, permitia a agricultura em apenas 5% do seu solo,
nas regiões situadas às margens do Rio Nilo. A confecção de um calendário era
de extrema importância para essa civilização, pois, a partir dele, seria
possível saber o período certo para semear e colher.
Além do nascer e do pôr-do-sol, os
egípcios observaram também o momento exato do meio-dia[1],
usando uma vareta fincada no chão. Nesse momento, não há sombra, pois o Sol
encontra-se à pino (JESPERSEN e RANDOLPH, 1999).
Os egípcios se basearam nos movimentos
de translação e de rotação da Terra (Figura 02) para a determinação de um
calendário, há 6000 anos. O ano civil era composto de 12 meses de 30 dias cada,
mais 5 dias adicionais[2],
ao final de cada ano, correspondente aos aniversários dos deuses Osíris, Hórus,
Ísis, Néftis e Seth, totalizando 365 dias. Esse ano civil foi dividido em três
estações[3]:
tempo da inundação, tempo da semeadura e tempo da colheita (WHITROW,
1993). A divisão do dia em 24 horas (do
pôr-do-sol ao pôr-do-sol) deve-se aos egípcios, apesar da sua duração variar em
cada época do ano, pois dividiam o período claro em 12 horas e o período escuro
também. A divisão da hora em 60 minutos e do minuto em 60 segundos foi
resultado do sistema sexagesimal usado na antiga Babilônia, posteriormente
utilizado no Egito (WHITROW, 1993).
Figura 02 – Relação (a) do ano e (b) do dia
com os movimentos
de
translação e rotação da Terra
Fonte: Jespersen e Randolph
(1999, p.101), adaptada.
A princípio, os egípcios utilizaram o
Sol para medir as horas ao longo do dia. O relógio mais antigo, um relógio de
sol, foi encontrado no Egito e construído por volta de 1500 a.C. O Egito era um
país de céu quase sem nuvens, o que propiciava a observação de sombras para a
medição de momentos do dia (WHITROW, 1993). O princípio de funcionamento de um
relógio de sol é a projeção da sombra de um ponteiro, denominado gnômon, sobre
uma superfície. Como mostra a Figura 03:
Figura 03
– Princípio de funcionamento
do
relógio de sol
Fonte:
http://www.britannica.com
Apesar de
ser facilmente construído e utilizado por qualquer pessoa, o relógio de sol
apresenta algumas limitações. Ele não pode ser usado à noite e sua precisão não
é boa, pois não marca intervalos de tempo da ordem de minutos. Atualmente,
sabe-se que alguns fatores relacionados ao movimento da Terra em torno do seu
eixo e ao redor do Sol contribuem para a sua baixa precisão:
·
a
órbita da Terra em torno do Sol não é um círculo, e sim uma elipse, viajando
mais rápido quando está mais perto do sol do que quando está mais longe;
·
o
eixo da Terra não está no plano de sua órbita em torno do Sol;
·
a
Terra gira com uma velocidade irregular em torno de seu eixo.
Para aquela
época, o relógio de Sol era confiável quando o Sol estava brilhando. Mas o que
fazer quando o Sol não estava brilhando? Outros tipos de relógio tiveram que
ser desenvolvidos e o Sol foi uma espécie de relógio-mestre que serviu como uma
escala de tempo primária para calibrar e ajustar outros relógios (JESPERSEN e
RANDOLPH, 1999). Bonitos relógios de sol ainda decoram jardins e construções. A
Figura 04 mostra um relógio de sol construído na praia de Areia Preta, no
município de Natal/RN.
Figura 04 – Relógio
de sol na Praia
de Areia Preta (Natal/RN)
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki
Os egípcios também
desenvolveram outros instrumentos de medição do tempo, entre eles o relógio de
água. O principal objetivo da construção desse tipo de relógio era a medição do
tempo durante a noite, ou quando não havia Sol. “Foram desenvolvidos dois tipos
principais, em que a água fluía para fora ou para dentro, respectivamente, de
um vaso graduado” (WHITROW, 1993, p.42). Dependendo do nível em que a água se
encontrava, podia-se determinar a hora[4]. A
Figura 05 mostra um relógio em que a água fluí para dentro de um vaso graduado.
Posteriormente, o relógio de água foi chamado de clepsidra pelos gregos
(WHITROW, 1993).
Figura 05 – Relógio
de água
Fonte: http://cienciaecultura.bvs.br
Ao contrário do Egito, a Babilônia era
uma região que não apresentava as regularidades observadas em torno do Rio
Nilo. Segundo Whitrow (1993), os habitantes da Antiga Mesopotâmia, região entre
os rios Tigre e Eufrates, eram obrigados a enfrentar variações climáticas,
ventos cortantes, chuvas fortes e enchentes devastadoras, que escapavam a seu
controle. Para os babilônios, essa fúria da natureza não podia ser superada por
cultos religiosos:
A
mentalidade que marca a civilização mesopotâmica reflete esse elemento de força
e violência da natureza, que não propiciava a crença de que a devastação
causada pelo tempo podia ser superada por um culto ritual como o de Osíris, no
Egito. Ainda que houvessem indícios de ordem cósmica nos movimentos do Sol, da
Lua e das estrelas, bem como no ciclo das estações, essa ordem não era encarada
como seguramente estabelecida, devendo ser continuamente promovida pela
integração de vontades ou poderes divinos conflitantes. (WHITROW, 1993,
p.43-44).
Os babilônios pensavam que havia nos
eventos humanos uma contrapartida para cada fenômeno celeste. Por isso, os
astrônomos-sacerdotes faziam observações detalhadas dos corpos celestes. Essas
observações constituíam a astrologia judicial e, suas predições "diziam
respeito à corte real e ao Estado e não aos indivíduos comuns" (WHITROW,
1993, p.45). A astrologia horoscópica se desenvolveu mais tarde, por volta de
400 a.C. De acordo com ela, as posições dos astros no momento em que uma pessoa
nasce influencia muitas características e acontecimentos na vida do indivíduo.
Tanto a astrologia judicial como a horoscópica baseavam-se na visão da
existência fundamentalmente determinística:
Pessoas
que acreditavam que a história e o destino dos homens eram controlados pelos
astros não eram propensas a alimentar a idéia de progresso histórico. Ao
contrário, tendiam antes a adotar uma visão cíclica do tempo, de acordo com a
periodicidade dos movimentos do Sol, da Lua e dos planetas (WHITROW, 1993,
p.45).
A Lua era a base do calendário
babilônico. Eles dividiram o ano em 12 ou 13 meses, de 30 dias, dividiram o dia
em 12 períodos e esses períodos em 30 partes. O mês tinha início quando a Lua
crescente se tornava visível após o anoitecer e o dia tinha início após o
pôr-do-sol. Os babilônios foram os primeiros a associar períodos de sete dias
com as fases da Lua. Inventaram o zodíaco, um cinturão à volta do céu em que se
situavam o Sol, a Lua e os planetas.
Dividiram o céu em doze signos zodiacais, de 30 dias cada (Figura 06). A
divisão do céu foi estendida à divisão do círculo, “levando assim ao costume
que hoje temos de dividir o ângulo completo (bidimensional) em torno de um
ponto em 360 graus” (WHITROW, 1993, p.46).
Figura 06 – Os doze signos do zodíaco
Fonte: http://astro.if.ufrgs.br
Ainda na Antiguidade, os filósofos
gregos especularam incessantemente sobre a origem do mundo e a substância a
partir da qual todas as outras foram formadas. Viam o tempo como um juiz.
"O pressuposto básico era que o Tempo sempre descobrirá e vingará qualquer
ato de injustiça" (WHITROW, 1993, p.54).
Segundo os ensinamentos pitagóricos, a
essência das coisas "deve ser buscada no conceito de número, ao qual se
atribuía significado espacial e também temporal" (WHITROW, 1993, p.55).
Até mesmo as configurações espaciais eram vistas como temporais. Isso pode ser
exemplificado pelo gnômon, que era um instrumento de medição do tempo.
Parmênides afirmava que o tempo não
pode pertencer a nada que seja verdadeiramente real e propôs uma distinção
entre o mundo da aparência, revelado pelos nossos sentidos, e o mundo da
realidade, revelado pela razão:
Sua proposição básica
era: "Aquilo que é é, e lhe é impossível não ser". A
partir disso, afirmava que, uma vez que somente o presente “é”, isto decorre
que passado e futuro são igualmente carentes de significado - o único tempo é
um tempo presente contínuo, e o que existe é não criado e também imperecível. A
partir disto, Parmênides propôs uma distinção básica entre o mundo da
aparência, caracterizado pelo tempo e a mudança, e o mundo da realidade,
imutável e atemporal. O primeiro é revelado por nossos sentidos, mas estes são
enganosos. O segundo nos é revelado pela razão e é o único modo verdadeiro de
existência. (WHITROW, 1993, p.56)
Segundo sua proposição básica, a luz
pertence ao ser e a escuridão, por se
tratar de ausência de luz, ao não ser.
Para Platão, o tempo era produzido
pelas revoluções da esfera celeste. Logo, o tempo e o universo seriam
inseparáveis. Já para Aristóteles, é através da consciência do “antes” e do
“depois” que temos consciência do tempo (WHITROW, 1993).
Os gregos utilizavam como instrumentos de medição do tempo o relógio de
sol (gnômon) e o relógio de água (clepsidra) desenvolvidos pelos egípcios.
que legal aprender
ResponderExcluirAmei
ResponderExcluir